Modelos de carros elétricos travaram uma disputa acirrada com os carros movidos à álcool

Modelos de carros elétricos travaram uma disputa acirrada com os carros movidos à álcool

Isabella Otero Comunicação – 13/06/2023

Especialista de energia há 3 décadas explica a disputa entre Carros Elétricos e Carros Movidos à Álcool, pontuando desvantagens de ambos os modelos

Não é novidade que os modelos de carros elétricos travaram uma disputa acirrada com os carros movidos à álcool. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria, dados apontam que a produção de álcool através do milho cresceu cerca de 800% em cinco anos e, ainda que o Brasil seja conhecido pelo uso de matérias primas naturais para a produção de etanol, é impossível deixar de citar as desvantagens também existentes em carros como este. Desta forma, a discussão que parece infinita pode ser concluída de uma única forma: considerando o ponto de vista de um especialista. 

Segundo Jean Albino, profissional de energia há 30 anos e mentor-investidor da startup de soluções e diagnóstico energético Lead Energy, a produção do álcool através do milho não pode ser levada como solução absoluta por uma razão histórica: “Não se pode comprovar que o etanol seja a opção mais requisitada futuramente. Isso porque, ainda persistem os resquícios da escassez do álcool nos postos, ocorrida no fim dos anos 80 e provocada pelas usinas que optaram por produzir açúcar ao invés de álcool, considerando que era um composto mais lucrativo na época. Além disso, vale citar a baixa autonomia dos veículos movidos com este combustível que pode desestimular o interesse dos consumidores”.  

Descartando por completo a opção dos carros tradicionais, movidos à gasolina, Jean explica sob a sua perspectiva, porque estes jamais seriam uma alternativa viável: “Os carros à combustível fóssil são barulhentos e poluentes. Surpreendentemente, possuem motores mais complexos de fabricar, mas com uma tecnologia consolidada e difundida, o que acaba tornando a produção mais barata.” Ainda, realizando um paralelo com os carros elétricos, Jean explica um dos fatores que os impede de serem líderes do mercado atualmente: “O maior custo dos carros elétricos hoje, são as baterias. Os valores impedem a consolidação de grandes benefícios como a evolução tecnológica de sua autonomia e da pegada ambiental. Mas, nada impede a progressão dos modelos e a consequente redução do custo”. 

Porém, como nem tudo são flores e ao mesmo passo que existem vantagens, também há prejuízos, o especialista aponta quais os malefícios proporcionados pelos carros elétricos no panorama que vivemos hoje: “Os carros elétricos envolvem a fabricação de baterias cujo o processo de extração mineral é poluente e requer a criação de uma indústria que realize o descarte e reaproveitamento. Já o álcool, neste sentido, é um produto renovável e ambientalmente mais limpo.” Ele retoma, inclusive, os prejuízos relacionados à própria estrutura do carro elétrico: “Pelo fato de estarmos na fase inicial desta tecnologia, os modelos elétricos são bem mais pesados, por conta das baterias. Isso faz com que os pneus, freios e suspensão tenham que ser mais resistentes e assim, mais caros. O tempo de carga e a disponibilidade de pontos de recarga também são aspectos problemáticos, mas que podem ser resolvidos de acordo com a relação entre oferta e demanda”. 

A Alemanha, por sua vez, determinou uma norma que busca eliminar a produção de carros que emitem gás carbônico. Acontece que, o projeto não visa a fabricação de carros elétricos, mas aqueles que funcionem com combustíveis sintéticos, considerando a impossibilidade da extinção de veículos à combustão. Falando especificamente do Brasil, Jean comenta que os prazos para este tipo de mudança são um tanto longos: “A exclusão de carros poluentes no Brasil não é viável a curto prazo, que é um país economicamente prejudicado e, querendo ou não, possui um diferencial: uma matriz energética relativamente limpa”. 

Jean aponta o caminho mais estratégico para o consumidor e para o meio ambiente, mas que depende de um encorajamento por parte do país: “O Brasil precisa decidir que o álcool possui importância estratégica e, desta forma, incentive o seu consumo, se esquivando das consequências deixadas pela escassez nos postos nos anos 80. Caso ocorra, o caminho viável do futuro seria, sem dúvidas, os automóveis híbridos movidos a eletricidade e ao álcool. Assim, ao longo prazo, o custo de carregamento se tornará mais barato, além de aumentar a autonomia dos veículos, oferecendo segurança ao motorista e menos poluição à natureza. Portanto, mistura o que ambos os modelos têm de melhor.”